Pergunta: O que fazem, numa
noite fria, algumas dezenas de pessoas reunidas nas instalações de uma
associação humanitária de uma pequena freguesia rural do interior de Santo
Tirso? Resposta: Debatem, trocam ideias e experiências,
confrontam argumentos, esclarecem, propõem, interrogam, respondem. Em síntese:
praticam a cidadania.
Os que estão a começar a ler este
artigo devem pensar que se trata de um texto de ficção. Estão errados.
Aconteceu mesmo. Na passada segunda-feira, em Monte Córdova, numa iniciativa
promovida pela associação cívica “AMAR SANTO TIRSO”, inserida no Ciclo de
Conferências “Santo Tirso, que futuro? – Uma estratégia de desenvolvimento para
a próxima década”.
É certo que o tema era actual e aliciante,
“Economia Local e Economia Social”, e o painel de luxo – drª Gilda Torrão,
directora-geral da ASAS Santo Tirso, e profª Maria José Abreu, da Universidade
do Minho -, mas isso geralmente de pouco vale quando não existe “trade off”, e quem
vai só aparece por “amor à camisola”, e como isso está em desuso…
Se não andasse nisto há muito
tempo e não soubesse ler todos os sinais, mesmo os mais imperceptíveis, tinha
ficado comovido (não no sentido emocional, mas no de inesperado) com tanta
gente (sim, tanta gente) que se predispôs a percorrer dezenas de quilómetros
por montes em noite de breu.
Decisores políticos, homens e
mulheres que têm sucesso na sua actividade profissional e, por isso, são
criteriosos nas suas opções públicas, mostraram à saciedade que a sociedade
civil de Santo Tirso tem uma enorme vitalidade.
Há gente que tem ideias e as
expõe com dessasombro, há gente mais discreta que participa, observa e regista.
Há gente com tanto valor que gosta de passar despercebida, como o Sr. Américo
Freitas, presidente da Direcção da Associação de Solidariedade Humanitária de
Monte Córdova, onde decorreu a sessão, e que estava feliz da vida por, pela
primeira vez, terem “descoberto” esta instituição. O meu muito obrigado a ele
pelo trabalho notável e por ter aguentado estoicamente até à uma da manhã. Seis
horas depois, disse-nos, tinha de estar de novo ali.
Mais do que estas palavras, vão falar
por si as fotos e o vídeo da sessão que nos próximos dias vamos partilhar com
todos. Para memória futura fica o testemunho dos que puderam e quiseram estar
no dia 6 de novembro de 2012 em Monte Córdova.
Um dia que não foi escolhido por
acaso, porque foi a 6 de novembro de 907 que ali nasceu o Conde S. Rosendo, uma
das grandes figuras da Igreja ibérica, mas cujo facto é ignorado no “site” da
Junta de Freguesia de Monte Córdova. Espero que este alerta ajude a mudar
alguma coisa!
Post-Scriptum: Notáveis as
intervenções da drª Gilda Torrão, sobre o cada vez mais importante sector
social, e da profª Maria José Abreu, sobre a indústria têxtil. Mas, se calhar,
vamos ter de voltar a Monte Córdova para debater ideias, propostas e soluções
para potenciar e valorizar a sua enorme riqueza natural, paisagística,
histórica, e colocá-la ao serviço do turismo como forma de reanimar o comércio
local. Monte Córdova, outrora designada a “Suíça” de Santo Tirso, merece um
futuro melhor.
Pedro Fonseca
Presidente da "AMAR SANTO TIRSO"