sexta-feira, 27 de maio de 2011

Manuel António Pina

Manuel António Pina ganhou o Prémio Camões, o maior galardão literário de língua portuguesa. Porque é que dedico este meu espaço neste jornal ao jornalista, escritor e poeta nascido no Sabugal mas portuense por adopção?
Por três ordens de razões.
1 - Manuel António Pina é uma das poucas personalidades nortenhas com relevo, dimensão e reconhecimento nacional.Não é coisa pouca. Num país onde o centralismo do Terreiro do Paço exerce uma omnipresença sufocante, a existência de uma personalidade com o génio de Pina, vivendo pacata e discretamente algures em Azevedo (Porto), onde a ruralidade ainda resiste à cidade, é caso de assinalar.
É certo que ainda há Oliveira, o cineasta, e Souto Moura, o arquitecto agora também laureado, mas um e outro "perseguem" à sua maneira um qualquer registo para a posteridade. Pina, pelo contrário, assume o recolhimento não por soberba mas porque é um homem comum que foge dos holofotes, para melhor apreciar a vida e a companhia dos seus gatos;
2 - Por um daqueles felizes acasos do destino - para quem acredita neles -  convidei Manuel António Pina para orador de uma palestra organizada pela associação cívica "AMAR SANTO TIRSO", a que presido.
O convite foi saltando de data em data e de local em local. Até que tivemos a feliz ideia de envolver na iniciativa a Junta de Freguesia de Vila das Aves, tendo o seu presidente, Carlos Valente, colocado de imediato à disposição o Salão Nobre da Junta.
Em boa hora fizemos esta parceria. O Salão Nobre praticamente encheu para ouvir uma das últimas intervenções públicas daquele que seria alguns dias depois o Prémio Camões 2011. Naquela altura ninguém o imaginaria, nem o próprio, pois não Manuel António Pina?
A "AMAR SANTO TIRSO" fica assim indelevelmente ligada a esta importante consagração de um dos nossos maiores vultos culturais da actualidade;
3 - Conheço Manuel António Pina há 20 anos. Trabalhei vários anos com ele, lado a lado, no mesmo espaço. Já era então uma personalidade singular da nossa cultura. Já era um "nome", uma referência.
Nunca lhe vi um assomo de vedetismo; nunca lhe descortinei uma pose mais afectada. Pelo contrário, sempre foi um entre iguais, um como nós. E para isso também é preciso ter-se talento.

Pedro Fonseca
Presidente da Direcção
"AMAR SANTO TIRSO"

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Liga dos Amigos do Hospital de Santo Tirso

Há poucas semanas, a Liga dos Amigos do Hospital de Santo Tirso celebrou 25 anos. Tive a grata oportunidade de estar presente no jantar comemorativo da data e pude constatar que esta é uma instituição emblemática do concelho.

Um quarto de século passado, a Liga granjeou um reconhecimento público difícil de igualar em Santo Tirso. Num concelho às vezes claustrofóbico e asfixiado por invejas mesquinhas, por jogos de interesses privados, por troca de benesses espúrias, a Liga soube sempre estar acima desse pântano e olhar sempre directo ao objectivo primeiro: ajudar quem mais precisa.

Não se julgue que é tarefa fácil. Muitas outras instituições de fins também nobres e dignos, sucumbiram à tentação de agradar ao poder autárquico, quando não ao poder partidário que o sustenta.
Era mais fácil à Liga ter ido por aí, bajular o poder e usufruir de algumas migalhas. Ficou claro que nunca o fez neste jantar de 25º aniversário, quando face ao que se comemorava seria incontornável a presença por inteiro do líder autárquico e não uma rápida e deselegante “visita de médico”, porque deveres partidários falavam mais alto.

Não cabe aqui fazer o “relatório e contas” da actividade da Liga e daquilo que já contribuiu para um hospital melhor e para uma melhor qualidade de vida de doentes, familiares e comunidade em geral.
Mas é inevitável falar e homenagear o seu corpo de voluntários, a espinha dorsal da sua actividade, que se rege por princípios éticos, de dedicação a uma causa que é uma causa maior da comunidade – estar presente junto dos enfermos, dos desvalidos, dos abandonados.
Este texto é apenas um testemunho de gratidão. Um testemunho de quem nunca precisou da Liga dos Amigos do Hospital de Santo Tirso, mas a quem também nada deu (mea-culpa). Este meu testemunho é, por isso, o de um tirsense livre e descomprometido com uma instituição de fazer bem e de bem fazer.
Nos últimos anos, o hospital de Santo Tirso, o nosso Hospital Conde S. Bento, passou por vicissitudes várias. O encerramento de alguns serviços nucleares, como a Maternidade, retirou-lhe importância distrital e regional, apesar da integração no denominado Centro Hospitalar do Médio Ave (Santo Tirso + Famalicão).
A Liga, porém, sempre soube estar acima das querelas político-partidárias. Em 25 anos, dois presidentes: o enfermeiro José Luís Martins, homem generoso e que marcou uma era, e o enfermeiro Fernando Marques, que projectou e dinamizou a instituição para melhor lidar com os novos desafios. Independentemente das suas simpatias e filiações partidárias, estes dois homens tiveram a grandeza de carácter para não olhar a vínculos de qualquer espécie.
Quando os tempos são de crise e de cortes generalizados, mais se faz sentir a importância de instituições altruístas como a Liga dos Amigos do Hospital de Santo Tirso. É nestes momentos que sabe a pouco a outorga de meras medalhas honoríficas ou encómios circunstanciais com que, à última hora, esperam branquear anos de esquecimento.
Pedro Fonseca
Presidente da Direcção
"AMAR SANTO TIRSO"